No dia 9 de novembro de 2023 eu subi em um palco de um evento internacional de design — o ILA23 — para dar uma palestra, e esse dia vai ficar marcado para sempre na minha vida como uma imensa conquista profissional, e também pessoal. Mas se algum dia pensei que o maior desafio que enfrentaria seria o de me colocar na frente de uma audiência daquele calibre, mal sabia eu que o desafio real seria toda a jornada até chegar lá, e que subir naquele palco era apenas a consequência de tudo que trabalhei e realizei.
Minha palestra tinha o seguinte título: “AI e a mentira convincente: o papel de designers na engenharia de prompt”, e basicamente eu tratava de um case sobre como a inteligência artificial tinha o poder de nos trazer inverdades muito críveis e como nós, enquanto designers, temos uma grande responsabilidade ao trabalhar com AI.
Tive muita ajuda de amigos e familiares para me ouvir, me guiar e revisar o que eu iria apresentar, mas olhando para trás eu preciso reconhecer algo que nunca tinha acontecido na minha vida profissional, que foi o enorme suporte que recebi da empresa em que trabalho, o Jusbrasil. E não estou aqui pra bajular ou apenas para agradecer ao Jusbrasil por ter pago minha passagem (rs), estou aqui porque me peguei pensando muito sobre como consegui chegar até ali e se não fosse o tipo de cultura que existe nessa empresa, no mínimo, minha jornada seria muito, mas muito mais complexa.
Nesse artigo vou abordar cinco aspectos fundamentais da cultura jusbrasileira que me impulsionam no dia a dia e me ajudaram a chegar aos palcos do ILA.
1/5 — Minha autonomia
Antes de mais nada, no Jusbrasil os times têm autonomia para decidir qual caminho tomar ou em qual recurso devemos investir esforço. E quando digo autonomia é autonomia real, se algum gestor acredita que o caminho a ser seguido é o A, mas o time acredita que o caminho a ser seguido na verdade é o B, existe um incentivo de que o time foque suas energias no caminho B e todos torcem pelo resultado.
Comecei a trabalhar com IA dentro do Jusbrasil aproximadamente em meados de 2022, quando meu gestor nos deu uma primeira amostra de uma Gen-AI — ainda sem o formato de chat — que ele tinha descoberto e, claramente, ficamos impressionados. Rapidamente quisemos testar para saber se aquilo iria nos ajudar a resolver nossos desafios, mas na ocasião os testes não se mostraram satisfatórios e “engavetamos”.
Tá certo que falar “engavetamos” é algo muito forte, já que em poucos meses novas AIs começaram a pipocar — com resultados muito melhores, inclusive — e voltamos a ativa com a ideia de integrá-la ao nosso produto. Mesmo com os primeiros resultados não sendo satisfatórios, nós apostamos nossas fichas novamente na IA, pois é o que acreditávamos.
2/5 — Errar fazia parte do processo
E “torcer pelo resultado” não significa que não se pode errar ou que se deve obter um resultado positivo a qualquer custo. O erro é também parte do processo e ajuda a descobrir qual caminho não devemos seguir; essa é a filosofia dentro das squads. E é claro que ninguém quer ter um resultado negativo em um experimento, mas o que é essencial é que nenhum time é penalizado por isso.
Ao começarmos a implementar IA no início de 2023, nos deparamos com um primeiro resultado de um teste público que nos trouxe dois números muito discrepantes. Os usuários do nosso site, neste experimento, tinham acesso a um botão chamado “Entender”, que transformaria, usando gen-AI, um texto jurídico muito difícil em um texto em linguagem simples e de fácil compreensão.
O primeiro número que tivemos foi o de que 93,4% das pessoas usuárias ficaram satisfeitas com o resultado daquele recurso; elas simplesmente amaram o funcionamento e tivemos diversos elogios de “como a explicação gerada era muito mais fácil de entender do que o texto jurídico original”, e, claro, nossa equipe foi à loucura, alegria total — até nos depararmos com o segundo número. Acreditávamos que as gen-AIs só traziam informações completamente assertivas, mas nossos especialistas jurídicos leram os textos que a IA tinha gerado e, por mais que gramaticalmente eles estivessem ótimos, juridicamente 38% deles tinham informações incorretas.
Naquele momento fomos do céu ao inferno e todo aquele esforço não valeu de nada. Erramos em acreditar que gen-AI seria nossa salvação.
3/5 — Remoto e assíncrono: no meu espaço e no meu tempo
No início do ano eu vivia um turbilhão de conflitos na minha vida pessoal, desde questões familiares até questões de saúde, com destaque para muitas sessões de fisioterapia e cuidados com o corpo que precisei ter devido a alguns problemas ortopédicos, então, meu tempo e foco precisaram ser ajustados.
E aqui entra mais um pilar que foi essencial para essa minha jornada, o trabalho distribuído, ou remote-first, como preferir. Ou seja, por mais que tenhamos escritórios no Jusbrasil, a maioria das pessoas trabalha de suas casas e nossa comunicação respeita o tempo de cada um, sendo assíncrona.
Se eu mando uma mensagem a alguém, essa pessoa me responde quando puder — a pressa e ansiedade da resposta é só minha e não dela –; se ela está concentrada em uma tarefa e prefere responder mensagens no fim do dia, ela pode; ou, se ela está em algum compromisso da vida pessoal e depois irá responder, todos respeitam isso, já que entendemos que a vida pessoal não vem em segundo lugar, ela anda em pé de igualdade com a profissional.
Dito isso, esse pilar foi fundamental naquele instante, pois em outras culturas de trabalho, o que eu vivia naquele momento em minha vida pessoal poderia resultar no meu esgotamento ao tentar equilibrar tudo simultaneamente, ou me faria abrir mão da minha saúde em detrimento ao trabalho — coisa que já fiz muito e por muito tempo. Mas não, ali eu consegui lidar com tudo, aos poucos, como deve ser, e ter essa paz de espírito me ajudou inclusive a ter ideias do que fazer — e sério, uma dessas ideias surgiu no meio de uma sessão de fisioterapia –, e foi aí que comecei a mergulhar em estudos do que depois descobri ser engenharia de prompt.
4/5 — Realizei pesquisas contínuas
No decorrer das semanas seguintes, eu e meu time tivemos diversos encontros e trocas para ir aprimorando o prompt. Dado que nosso primeiro teste público teve aquele resultado pessimista de que 38% das respostas eram juridicamente mentiras. Resolvemos, então, não fazer mais testes públicos até que nossa IA tivesse um melhor desempenho, com muito mais assertividade.
E aqui entra um dos pontos imprescindíveis para o nível de agilidade que pudemos evoluir nosso trabalho: o contato com pessoas usuárias. São mais de 22 milhões de pessoas que usam nosso site todos os meses, é impossível criar recursos sem testar profundamente, mesmo em pequenos negócios, quiçá em uma empresa com tantos acessos como o Jusbrasil.
Mas aqui temos algo que nunca tinha visto, um incentivo e investimento muito grandes em pesquisa; temos, inclusive, um sistema de entrevistas fixas com pessoas usuárias semanalmente! Ou seja, toda semana uma empresa recrutadora agenda um horário com usuários para que cada time possa realizar entrevistas e, com isso, a cada semana testar e evoluir colhendo percepções de pessoas reais.
5/5 — Recebi incentivo e isso foi crucial!
Em alguns meses estivemos seguros para testar novamente aquele recurso e o levamos a campo. Novamente a satisfação foi alta, dessa vez em 96% (até maior), mas nossa preocupação era com a qualidade jurídica do texto, e pra nossa surpresa, nosso trabalho valeu a pena, o que era 38% de inverdade caiu para apenas 4%. Nos sentimos extremamente seguros em continuar os esforços em melhorar esse resultado junto ao time de engenharia.
E aqui vem o pilar final que destaco: nesse momento eu não tinha percebido o quanto esse resultado tinha sido algo grandioso, uma conquista para o time e para a empresa. Naquele momento eu estava vivendo no meio de um furacão e conseguia ver apenas que o trabalho estava dando certo, mas aí veio da minha gestão e de outros gestores o grande incentivo de compartilhar esse resultado em diversos fóruns da empresa, fóruns esses que nunca tinha participado, chegando, inclusive, aos c-levels.
O incentivo ao compartilhamento não é apenas um empurrão de “vai lá, mostra o que foi feito”, é uma validação e abertura para percebermos o quão valioso era aquilo que estávamos alcançando, para acreditarmos mais ainda em nós mesmos e no nosso potencial. E, claro, não parou por aí. Foi esse mesmo ímpeto de incentivo que me levou a ter coragem e a audácia de submeter esse case ao maior evento de design da América Latina.
E se alguém falar que incentivar uma pessoa é pouca coisa é simplesmente falta de repertório social. Quantas pessoas e talentos não estão por aí em cada casa podendo ser pessoas incríveis que podem mudar o mundo, mas que muita das vezes não acreditam em si mesmas ou estão muito ocupadas vendendo o almoço para comprar a janta?
Eu cheguei lá, mas não sozinho
Eu lutei muito por cada passo na minha carreira, mas sei que não cheguei aqui sozinho, reconheço minha síndrome de impostor, tenho medo de decepcionar e nem sempre acreditei que eu era merecedor de estar onde estou hoje, por isso digo com muito afinco que incentivar pessoas a serem aquilo que elas sonham as impulsionam a chegar lá, incentivar alguém é parte fundamental pra que essa pessoa alcance isso.
E por isso olho pra trás e vejo que não foi apenas um “case em uma empresa”, foi um projeto que acreditei junto ao meu time, que defendia, que me deu autonomia, no qual consegui evoluir e que conseguimos entregar! Obrigado Jusbrasil por ter essa cultura incrível, uma cultura que me inspira e me impulsiona a ser alguém que eu sonhava ser.